No ano de 2021 fizemos um evento em celebração ao dia das mulheres na Faculdade Arnaldo. Ao fazermos o briefing, uma unanimidade se apresentou: o evento se chamaria “Dia das Mulheres: para além das flores” e o diálogo entre os convidados foi sobre violência contra a mulher.

A referência às flores não tinha por objetivo criticar a sua oferta, que com bastante frequência acontece nesse dia. O intuito era colocar em reflexão a sutil mensagem de fragilidade que esse gesto insiste em retratar a mulher e a defraudação dos urgentes e necessários debates sobre a vulnerabilidade de toda natureza à qual estamos, quase que por condição, instadas a nela permanecer.

Um ano depois. Ainda muitas flores. Ainda muita estatística confirmando a perpetuação da violência contra nós! E só porque somos mulheres! A isso se dá o nome de violência de gênero, que tem em um dos seus pilares os perversos papéis de gênero (homem é e faz isso, mulher é e faz aquilo). Ser mulher não deve ser a razão para fazer ou deixar de fazer qualquer coisa!

E esse é o ponto: as tantas e diversas violências nos atravessam à lâminas frias. Há violência no estupro e na discriminação no mercado de trabalho. Há violência no assédio e quando nos reduzem e nos condicionam à maternidade. Há violência no espancamento e nas omissões. Há violência no grito e também no silêncio que nos amordaça sem mãos. Há violência quando nos desculpamos por trabalhar ou quando elogiamos um homem por realizar um trabalho doméstico porque este deveria ter sido executado por uma mulher. Há violência. Por todos os lados, há violência.

Ainda somos prisioneiras por mais livre que sejamos individualmente. Isso porque, o poder da mulher, assim como o de qualquer grupo, só brota e se mantém frutificando se o for coletivamente! A luta que lutamos não é pela supremacia das mulheres. Mas, para que o nosso gênero, ou qualquer outro, não seja por si só a razão de ser ou não qualquer coisa! Por isso, hoje é dia de luta! Luta de toda vida que se qualifica humana!

Voltando às flores, não que não gostemos delas. Particularmente, entretanto, preferimos que não nos interrompam quando falamos. Preferimos que não “expliquem em outras palavras” oque acabamos de dizer, como se o que dizemos exigisse ratificação masculina. Preferimos que nossas decisões sejam respeitadas. Preferimos que a firmeza na condução de qualquer situação não seja atrelada a nossa orientação sexual. Preferimos que a multiplicidade de nossas emoções (humanas) não nos reduzam à TPM.  

Firmes em Audre Lorde, acreditamos que não seremos “livres enquanto outra mulher for cativa, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas” e em Bell Hooks, também nos inspiramos na prática do amor como o “antídoto mais poderoso contra as políticas de dominação.”

Então... feliz dia de luta para todos os seres que respiram!

 

Patrícia Rocha - Coordenadora do Curso de Direito da Faculdade Arnaldo

Tássia Padilha - Coordenadora do Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade Arnaldo